Relação estreita entre a política e os meios de comunicação pode ser nociva para a democracia
Por Beatris Silva de Deus
Não é necessário aprofundar-se em teorias para perceber a parcialidade dos grandes veículos de comunicação. A posição política desses dita a forma como determinadas notícias serão apresentadas ao público e como outras serão indevidamente ocultadas.
De acordo com o Art. 2°, inciso I, do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, “A divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente de sua natureza jurídica – se pública, estatal ou privada – e da linha política de seus proprietários e/ou diretores”.
O jornalismo deveria se ater aos fatos e servir como intermediário, entre os três poderes e a sociedade. Porém, em um país em que os meios de comunicação estão centralizados nas mãos da elite, esse ideal torna-se cada vez mais distante.
Os laços estreitos entre o jornalismo e a política são demasiadamente evidentes na sociedade brasileira. E essa relação de “amigos” acaba prejudicando a própria democracia, a partir do momento em que os veículos de comunicação noticiam somente os fatos que são convenientes e deturpam os que fogem as suas respectivas ideologias.
Essa manipulação dos fatos pode ser facilmente encontrada em coberturas jornalísticas, realizadas por veículos parciais. Fotografar uma manifestação de poucas pessoas e dizer que representam a nação ou chamar todos os participantes de um protesto de desordeiros porque suas reivindicações vão contra os interesses da elite ou de alguns partidos políticos, exemplifica essa parcialidade.
A elite que detém o poder dos meios de comunicação apoia os partidos políticos que guardam os seus privilégios. Os políticos, por sua vez, fazem uso dessa arma para atingir seus opositores e se elevarem como heróis nacionais.
Entretanto, é preciso esclarecer que alguns governantes detêm seus próprios meios de comunicação, apesar dessa prática ser expressamente proibida pela Constituição de 1988.
Conforme o Art. 54, inciso II, alínea a os deputados e senadores não poderão “ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada”.
Para driblar a Constituição, alguns políticos colocam a empresa de comunicação no nome de terceiros e continuam sendo proprietários. A lei prevê uma punição a esses governantes, segundo o Art. 55, todos os deputados e senadores que infringirem as proibições estabelecidas no artigo 54, perderão o mandato.
A realidade é bem mais complexa que as normas. Fazendo uso de artimanhas, esses políticos continuam disseminando notícias falsas. As mesmas se reproduzem rapidamente e são encaradas como verdade, por conta da confiança que parte da sociedade tem em relação aos meios de comunicação tradicionais.
E como manter-se informado nesse cenário de desinformação? É inegável que essa troca de favores, entre a política e os veículos de comunicação no Brasil, dificulta o acesso a informação e impede que o cidadão exerça completamente o seu direito de participar das decisões políticas.
Talvez esse seja o objetivo de quem está no poder, silenciar quem não sabe o que está acontecendo de fato com o país e continuar disseminando discursos forjados. Essa postura nociva da mídia é uma grande ameaça à democracia. Nesse contexto, resta ao brasileiro tentar construir uma percepção, através de fragmentos dispersos da verdade.
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