Caso Johnny Depp e Amber Heard: a insignificância dos fatos

Como a manipulação de narrativas na mídia e nas redes sociais foi estratégica para inverter o papel da vítima e limpar a imagem de Depp

Por Gabriela Boechat

A louca, manipuladora e mentirosa contra o abusado, altruísta e inspirador. Essa foi a polarização que tomou conta da mídia desde 11 de abril, quando teve início o julgamento dos atores Johnny Depp e Amber Heard,  no estado norte-americano da Virgínia.  

Em 2016, o casal se divorciou após pouco mais de um ano de casamento e foi concedido a Heard uma medida protetiva de afastamento contra o ex-marido por violência doméstica. Dois anos depois, a atriz publicou um texto no jornal The Washington postque abordava a violência sofrida e se colocava como figura representante das sobreviventes de abuso doméstico. O artigo não citava o nome de Depp. Ainda assim, com a alegação de que foi altamente prejudicado pela publicação, o ator processou a ex-mulher por difamação e pediu uma indenização de 50 milhões dólares.

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Os limites da representatividade

“Turning Red”, novo filme da Pixar, traz temas importantes sobre amadurecimento, mas estreia em meio a polêmicas sobre representatividade em filmes de animação

Texto por Débora e Fernanda

Desde a estreia de Divertidamente, em 2015, o estúdio de animação Pixar vem mostrando uma nova orientação para seus filmes: ainda mantendo o tom fantasioso, eles parecem agora mais focados em trazer ao público uma maior identificação com as narrativas, invocando dramas comuns a diferentes faixas etárias. É nesse cenário que se dá, em março de 2022, a estreia de Turning Red (“Red: Crescer é uma fera”), primeiro longa do estúdio dirigido por uma mulher e com uma equipe de produção inteiramente feminina.

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Sexismo e política na guerra: o caso Mamãe Falei

Repercussão negativa do áudio demonstra que o discurso sexista tem consequências na vida pública

Por Pedro Sales

“Elas olham, e vou te dizer: são fáceis, porque elas são pobres”. Essa é a primeira frase dita por Arthur do Val em áudio vazado pelo portal Metrópoles, no dia 4 de março. Ao longo dos três extensos minutos, o deputado estadual, que era filiado ao Podemos de São Paulo, desfere comentários sexistas sobre as refugiadas ucranianas. O discurso não saiu impune. A repercussão da imprensa e das redes sociais foi imediata. As consequências chegaram à vida política e pessoal do parlamentar.

Arthur do Val, conhecido nas redes como “Mamãe Falei” — nome de seu canal no YouTube —, adquiriu relevância através de seus vídeos na plataforma. O conteúdo do canal se apoiava, sobretudo, em manifestações de alinhamento à esquerda. A tática utilizada pelo youtuber era se infiltrar em multidões e questionar a posição política dos manifestantes. A esperança de Arthur era que os participantes dos protestos reagissem agressivamente, pois dariam razão aos seus argumentos e os vídeos conseguiriam um bom engajamento.

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O “heroin chic” pode voltar?

Estética que pretendia ser uma alternativa à “perfeição” imposta nos anos 80 impacta diretamente na busca incessante pela magreza ainda hoje

Por Heloise Gonçalves e Débora Sobreira

Em setembro de 2019, Rihanna deu início ao especial anual de desfiles da sua marca de lingerie, Savage X Fenty, na New York Fashion Week. O impacto da celebração dos corpos plurais na passarela levou muitos veículos de mídia, inclusive da moda, a chamarem o desfile de “revolucionário”. As escolhas da estilista foram ovacionadas também nas redes sociais por pessoas que se viram — muitas delas, pela primeira vez — representadas nesse meio que lutou durante décadas pela exclusão de corpos fora do padrão.

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Dois podcasts entram em um bar…

Liberalismo mal lido é confundido com nazismo

Por Daniel Lustosa, Vitória Carmo, Luana Santos e Moises Mualem

Uma conversa de bar. Este formato de debate é como Bruno Aiub, conhecido como Monark, e Igor Coelho queriam que o Flow Podcast fosse visto. “Flow Podcast é uma conversa descontraída, longa e livre, como um papo de boteco entre amigos”, é a frase que aparece na página inicial do site do veículo. Inspirado no podcast do estadunidense Joe Rogan, o Joe Rogan Experience (JRE), Monark e Igor colecionam episódios polêmicos. Desde discurso pró-armamentista até a defesa de um partido nazista, o programa é material para a discussão: qual o limite da liberdade de manifestação do pensamento? 

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O jornalismo entre o lucro e sua responsabilidade social

O documentário O Mercado de Notícias, de 2014, questiona e analisa o papel da imprensa na sociedade

Por Marina Dalton

O Mercado de Notícias é um documentário de 2014, dirigido por Jorge Furtado, que reflete sobre o papel da imprensa na democracia e na formação da sociedade contemporânea. O jornalismo, desde seu surgimento, possui grande influência sobre a opinião pública e, ao longo do tempo, sua responsabilidade foi ganhando maior atenção.

O filme intercala entrevistas com 13 jornalistas brasileiros e cenas da peça de teatro The Staple of News, escrita pelo inglês Ben Jonson, em 1625. Ainda no século XVII, o autor contemporâneo de Shakespeare trouxe críticas bem humoradas sobre os interesses por trás do jornalismo, as dúvidas sobre a qualidade da informação e o desejo voraz do povo de consumir mais e mais notícias.

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Mulheres afegãs e a representação na mídia ocidental

Com o domínio do Talibã no Afeganistão, veículos da imprensa ocidental revivem discurso sobre mulheres afegãs, colocando vestimentas tradicionais e religiosas como símbolo inegável de opressão

Por Fernanda Fonseca

A organização fundamentalista Talibã tomou, no dia 15 de agosto, a capital do Afeganistão, Cabul, após uma semana inteira de avanços em direção à cidade. Até o dia anterior, o grupo vinha conquistando províncias nos arredores da capital e, na manhã do dia 15, a conquista de Cabul se consolidou após o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, deixar o país.

Com o desenrolar do domínio do Talibã no Afeganistão, os meios de comunicação reviveram o discurso que coloca as mulheres afegãs como impotentes e inerentemente oprimidas. Mas, além das questões geopolíticas e da série de direitos basilares em risco, a narrativa proposta pela mídia ocidental se ancorou principalmente nas vestimentas de mulheres afegãs, e mais especificamente as islâmicas, para ilustrar a opressão do fundamentalismo religioso. Ao trazê-las para os holofotes, os veículos da mídia ocidental instrumentalizam a opressão do Talibã contra as afegãs para tirar conclusões precipitadas sobre o islamismo e sobre a vivência dessas mulheres.

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O mito da beleza na era das redes sociais

Após Brasil ser líder pelo segundo ano consecutivo no ranking mundial de procedimentos estéticos, como as mídias digitais transformaram os brasileiros em marionetes de plásticas?

Por Vitória Marcondes

Pelo segundo ano consecutivo, de acordo com os dados divulgados pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), o Brasil é o país líder no ranking mundial na realização de cirurgias plásticas. Em 2018, foram registradas mais de 1 milhão 498 mil operações no país, além de mais de 969 mil procedimentos estéticos não-cirúrgicos. Em 2021, cresceu em mais de 140% o número de cirurgias realizadas em jovens de 13 a 18 anos, uma situação alarmante tendo em vista que a maioria ainda nem passou por todo o processo de amadurecimento fisiológico e hormonal. Diversos especialistas debatem a respeito das causas para o aumento exponencial da procura, contudo, grande parte aponta o fenômeno das redes sociais como um dos fatores principais.

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Guerra no Cáucaso

Armênia x Azerbaijão, um conflito geopolítico que envolve questões étnico-religiosas, disputa por territórios e um movimento separatista

Por Renan Lisboa

Em setembro de 2020, teve início o conflito fronteiriço entre Armênia e Azerbaijão que começou com acusações de violação do cessar-fogo por ambos os lados e escalou para um confronto de grandes proporções. Vários veículos da mídia nacional e internacional deram visibilidade para o acontecimento, apesar das críticas feitas por armênios e azeris em relação à cobertura “imprecisa” dos conflitos. Separatistas armênios lutam contra o exército do Azerbaijão, que tentava controlar a região, resultando na pior série de confrontos desde a guerra travada entre 1988 e 1994, que deixou cerca de 30 mil mortos. 

A disputa militar envolve a posse do enclave de Nagorno-Karabakh, região internacionalmente reconhecida como parte do Azerbaijão (país de maioria muçulmana), mas habitada majoritariamente por armênios (de maioria cristã). De acordo com a CNN Brasil, o território depende quase que totalmente dos recursos enviados pela Armênia e de doações de armênios em todo o mundo.

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Gucci Virtual 25, o tênis “acessível” da Casa Gucci

Com a expansão das aplicações da realidade aumentada, marcas desenvolvem novas possibilidades para a tecnologia. A mais nova veio na forma de produto, o tênis virtual

Por Layla Abdon

A Casa Gucci vende pares de tênis na faixa de 580 a 1250 dólares (3 a 7 mil reais, aproximadamente) em seu site. No mês de março, ela lançou um novo modelo “acessível” pelo preço de apenas 9 dólares, equivalente a cerca de 50 reais. A diferença é que o acesso ao produto é apenas digital, já que o lançamento corresponde a um calçado virtual. O Gucci Virtual 25 segue a tendência do mercado de aplicar a realidade virtual e aumentada não apenas como ferramenta, mas também na forma de produtos comercializáveis.

O produto foi desenvolvido em parceria com a Wanna, empresa de tecnologia do Leste Europeu especializada em moda. Estamos vivenciando um momento de ascensão das roupas virtuais. Entre produtos de moda para serem utilizados em videogames a acessórios virtuais que combinam com os feeds das redes sociais, a linha que divide o real e o digital torna-se cada vez mais tênue.

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