O QUE É TERRORISMO?

Por que a mídia escolheu o termo para se referir aos vândalos pró-golpe

Por Luiza Brandão

Como dizia o cantor e compositor Tom Jobim, “o Brasil não é para principiantes”. No domingo, dia 8 de janeiro, o país assistiu — mais uma vez — à depredação de bens públicos que começou como simples e inofensivas manifestações. Bolsonaristas radicais invadiram as sedes dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) em Brasília e instauraram o caos, destruindo desde os espaços ocupados pelas autoridades e seus bens materiais (como as togas dos ministros do Supremo Tribunal Federal) até as obras de arte e símbolos nacionais.

Mas por que desta vez, diferente de todas as outras, a mídia escolheu chamar esses vândalos de terroristas?

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“Pra que abortar? É só entregar para adoção”. Será?

O caso da criança que teve o pedido de interrupção da gravidez negado após sofrer violência sexual e a exposição da entrega voluntária para adoção, depois que atriz Klara Castanho foi vítima de estupro, mostram que discursos que condenam o aborto e colocam a doação como uma solução não ocorrem na prática. Falas do tipo não são fruto de preocupação com a vida, mas, sim, de controle sobre corpos femininos

Por Geovana Melo

Na manhã de sábado (25/6), um assunto rondou as redes sociais logo cedo. A apresentadora da Jovem Pan e pré-candidata a deputada federal Antonia Fontenelle contou, em live durante a semana, que uma atriz, de 21 anos, teria sido vítima de um estupro que resultou em uma gravidez indesejada. No entanto, como a religião da jovem condenava o aborto, a mulher optou por ter o bebê e entregar para adoção. Segundo Antônia, todo o processo foi feito em sigilo, mas o colunista Léo Dias descobriu o caso e entrou em contato com a atriz. Ainda de acordo com o relato da pré-candidata, a jovem confirmou a situação, chorou e disse que se mataria caso a notícia vazasse — fato que a youtuber desconsiderou totalmente ao expor a história. Logo começou-se a especular que se tratava da atriz Klara Castanho. O nome da jovem e dos colunistas viraram um dos assuntos mais comentados das redes sociais e entrou no trending topics do Twitter. 

Horas depois, já de noite, Klara Castanho publicou uma carta aberta, em que considerou como “o relato mais difícil” da vida dela. Contou que foi vítima de um estupro, que descobriu a gravidez em um estágio avançado, que não tinha condições emocionais de cuidar da criança e que todo o trâmite da adoção foi feito de modo legal, com amparo do Ministério Público — processo que pela lei garante sigilo a ela e a criança. 

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Caso Johnny Depp e Amber Heard: a insignificância dos fatos

Como a manipulação de narrativas na mídia e nas redes sociais foi estratégica para inverter o papel da vítima e limpar a imagem de Depp

Por Gabriela Boechat

A louca, manipuladora e mentirosa contra o abusado, altruísta e inspirador. Essa foi a polarização que tomou conta da mídia desde 11 de abril, quando teve início o julgamento dos atores Johnny Depp e Amber Heard,  no estado norte-americano da Virgínia.  

Em 2016, o casal se divorciou após pouco mais de um ano de casamento e foi concedido a Heard uma medida protetiva de afastamento contra o ex-marido por violência doméstica. Dois anos depois, a atriz publicou um texto no jornal The Washington postque abordava a violência sofrida e se colocava como figura representante das sobreviventes de abuso doméstico. O artigo não citava o nome de Depp. Ainda assim, com a alegação de que foi altamente prejudicado pela publicação, o ator processou a ex-mulher por difamação e pediu uma indenização de 50 milhões dólares.

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Mulheres no jornalismo 

Ataques a jornalistas demonstram clara tentativa de silenciamento dessas mulheres 

Por Gabriela Boechat  

Ontem, 7 de abril, foi comemorado o Dia do Jornalista. Criado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a data escolhida homenageia Giovanni Libero Badaró, importante jornalista que lutou pelo fim da monarquia portuguesa e pela independência do Brasil.  Assim como Badaró, desde os primórdios da atividade jornalística no Brasil, profissionais lutam pelo direito à liberdade de imprensa. O inciso V do artigo 2º do Código de Ética do Jornalista, por exemplo, prevê que “a obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação, a aplicação de censura e a indução à autocensura são delitos contra a sociedade”. 

Infelizmente essa luta ainda é constante e necessária. O Brasil, de acordo com o ranking mundial da liberdade de imprensa de 2021, caiu quatro posições e agora se encontra na zona vermelha. A partir de uma rápida análise de dados, compreende-se que desde 2019, quando Jair Bolsonaro (PL) assumiu a Presidência, o ambiente de trabalho para jornalistas se tornou mais perigoso, e a liberdade de imprensa está cada vez mais ameaçada. “Insultos, estigmatização e orquestração de humilhações públicas de jornalistas se tornaram a marca registrada do presidente, sua família e sua entourage”, afirma o texto de apresentação do ranking. 

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Os limites da representatividade

“Turning Red”, novo filme da Pixar, traz temas importantes sobre amadurecimento, mas estreia em meio a polêmicas sobre representatividade em filmes de animação

Texto por Débora e Fernanda

Desde a estreia de Divertidamente, em 2015, o estúdio de animação Pixar vem mostrando uma nova orientação para seus filmes: ainda mantendo o tom fantasioso, eles parecem agora mais focados em trazer ao público uma maior identificação com as narrativas, invocando dramas comuns a diferentes faixas etárias. É nesse cenário que se dá, em março de 2022, a estreia de Turning Red (“Red: Crescer é uma fera”), primeiro longa do estúdio dirigido por uma mulher e com uma equipe de produção inteiramente feminina.

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Big Brother Brasil: a representação trans na mídia brasileira

No mês da visibilidade trans, a internet volta a discutir a presença de trans e travestis na mídia

Por Alice Oliveira e Vinícius Ramos

No dia 20 de janeiro, Linn da Quebrada, uma das participantes do BBB 21, afirmou em sua apresentação para os colegas de confinamento como se identifica: “Não sou mulher, nem homem. Sou travesti”. Uma fala de grande peso no maior reality do Brasil gerou desdobramentos e um extenso debate acerca da representação de trans e travestis na mídia brasileira. Desde então, buscas pelo termo “o que é travesti?” cresceram 110% no Google Trends, e o que explica isso é justamente a presença da jovem no reality. 

Diante das diversas questões relacionadas à diversidade, as que prevalecem são as dúvidas referentes à expressão de gênero, que nada mais é do que o jeito que uma pessoa manifesta sua identidade ou se relaciona com sua identificação, não necessariamente, tendo que concordar com seu sexo biológico.

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A mídia e a cobertura de manifestações ambíguas

Sete anos depois das jornadas de junho de 2013, veículos da imprensa tradicional ainda parecem ter dificuldade em entender manifestações apartidárias

Por Lucas Guaraldo

No dia 20 de junho de 2013, as grandes manifestações dos 20 centavos atingiam seu ápice, alcançando 1,4 milhão de pessoas em mais de 120 cidades, mesmo depois do Movimento Passe Livre, idealizador inicial do movimento, declarar que não convocaria mais atos. A data foi fundamental para diversificar de vez as causas dos protestos. As passeatas serviram também para ressaltar a relação turbulenta dos atos com a mídia, que insistia em simplificar as exigências conforme suas narrativas.

As jornadas tiveram como bandeira inicial o aumento abusivo dos preços de passagem de ônibus na cidade de São Paulo, mas se tornaram muito mais amplas conforme o crescimento da popularidade dos atos. A indignação generalizada da época dava combustível para reivindicações como: o aumento dos investimentos em educação; saúde; fim dos privilégios das classes políticas; e a criação de leis mais severas no combate à corrupção.

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Todos os memes do presidente

Por Ana Carolina Fonseca

Imagine a surpresa de receber um e-mail oficial do Palácio do Planalto. Foi o que aconteceu com os blogueiros do Capinaremos e do Ah Negão em 22 de maio. A mensagem dizia que as imagens oficiais do Presidente Michel Temer (PMDB) não poderiam ser utilizadas sem os devidos créditos. Até aí, tudo bem. Está na Lei 9.610/98, artigo 24: o autor da imagem tem o direito moral de ser creditado.

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O sensacionalismo e o “male gaze” na imprensa

Por Ana Carolina Fonseca

Um texto jornalístico informativo deve ser escrito a partir das informações essenciais, que devem vir no início e ter mais destaque. Isso, todo estudante de jornalismo sabe. No entanto, esse princípio básico parece ter sido deixado de lado na matéria “Agefis e PM fecham prostíbulo em sobreloja de restaurante na Asa Sul”, publicada pelo portal de notícias Metrópoles. Uma das partes mais importantes do texto — e que, de certa forma, deveria guiar toda a matéria — ficou esquecida no último parágrafo, quase como uma observação de última hora.

Crédito: Reprodução/Facebook/White House

A era de Trump

Por Ana Carolina Fonseca 

No Twitter – meio de comunicação mais usado por Donald Trump –, o Presidente dos Estados Unidos fez ameaça discreta à imprensa. O magnata sugeriu que poderia alterar leis de difamação porque, segundo ele, o “falho” jornal The New York Times “desgraçou o mundo da mídia” e teria publicado mentiras sobre Trump por dois anos.

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