ESPETACULARIZAÇÃO DO ABSURDO

Caso “Tio Paulo” expõe sensacionalismo na imprensa e insensatez nas redes sociais

Por João Pedro Alves e Maria Eduarda Oliveira 

“Tio Paulo, tá ouvindo? O senhor precisa assinar”. No mês de abril, o vídeo que apresenta esse diálogo ocupou o noticiário e figurou entre os assuntos mais comentados das redes sociais. O fato, em 16 de abril, envolve Érika de Souza, mulher de 42 anos que levou o tio, Paulo Roberto Braga, para retirar dinheiro de empréstimo solicitado dias antes. Nas imagens, o idoso, em uma cadeira de rodas, não reage aos comandos da sobrinha. Funcionárias da agência chamam, então, socorro médico. O homem estava morto.

A cobertura pela imprensa brasileira, a repercussão internacional do episódio e as reações nas redes sociais, muitas delas repletas de piadas e memes, levantam questionamentos a respeito do tratamento dado pela mídia em casos que desafiam a lógica, carregam complexidades e se aproximam do absurdo. 

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Fontes viciadas no jornalismo de educação

Visão unilateral de especialistas na cobertura pela imprensa enfraquece debate a respeito do Novo Ensino Médio 

Por João Pedro Alves

No dia 20 de março, a Câmara dos Deputados aprovou mudanças no novo modelo do Ensino Médio. Os principais pontos da “reforma da reforma” foram explicados com clareza pelo noticiário, que se utilizou de recursos gráficos, como tabelas e ilustrações. Mas, ao consultar especialistas de apenas uma organização, a cobertura da imprensa, por parte da grande mídia, limita compreensão e contribui para enfraquecimento do debate a respeito do Novo Ensino Médio.

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COBERTURA GLOBELEZA DEIXA JORNALISMO DE FORA

Com foco comercial, Globo retira jornalistas da cobertura do carnaval 2024 e escala influenciadores, equipe de esporte e entretenimento 

Por Júlia Giusti e Júlia Lopes 

Carnaval Globeleza é um programa da Rede Globo responsável pela cobertura dos carnavais de rua em todo país e dos desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro e em São Paulo, além das apurações dos dois desfiles. A atração conta com entradas ao vivo ou gravadas de outras cidades, bem como transmissões do carnaval em Salvador (BA), Recife e Olinda (PE). A primeira exibição do Globeleza com a vinheta que conhecemos hoje foi em 8 de fevereiro de 1991, mas, antes disso, a emissora já transmitia os desfiles desde 1985. 

A cobertura do Sambódromo Marquês de Sapucaí pela Globo é famosa pela boa apuração dos enredos, riqueza de informações sobre os desfiles e escolas de samba e qualidade visual. No entanto, em 2024, telespectadores apontaram vários aspectos negativos, como a substituição de repórteres por influenciadores e informações incompletas. A qualidade da imagem, em 4G, também foi reduzida como forma de cortar gastos. Isso repercutiu amplamente na mídia, com críticas de portais como Folha de S.Paulo, UOL e Veja, além de reclamações da audiência. 

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Tempo bom e dia de praia

Impactos de uma cobertura descontraída sobre as ondas de calor no Brasil

Por Ana Clara Canuto

A humanidade vem sentindo na pele, inclusive quem não acredita no aquecimento global, os primeiros sinais do agravamento das mudanças climáticas. Entre os dias 12 e 19 de novembro, o Brasil enfrentou a oitava onda de calor de 2023. Só no segundo semestre do ano foram quatro, e ao mesmo tempo em que o calor intenso castigava cidades da regiões Sudeste e Centro-Oeste, o Amazonas vivenciava a pior seca em 121 anos e a região Sul enfrentava enchentes e tempestades severas. 

Dias antes, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta de “grande risco” para 15 estados e o Distrito Federal devido às altas temperaturas previstas. Segundo a empresa de meteorologia MetSul, as previsões eram de que algumas cidades poderiam ficar entre 10ºC a 15ºC acima das médias históricas. Já no primeiro dia, no domingo (12/11), a cidade do Rio de Janeiro registrou 42,5ºC. No dia seguinte, a sensação térmica era de 52,7ºC. Em São Paulo, a capital paulista registrou a temperatura mais alta do ano: 37,8ºC. Nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as previsões eram de 45°C. Pelo menos 2,5 mil municípios do país foram afetados pelo calor extremo.

Reprodução MetSul
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Morbidez, acidentes, palavras e o jornalismo 

Sensacionalismo atinge a mídia nas descrições envolvendo Júlia de Albuquerque Violato, vítima de colisão entre um ônibus e um trem

Por Laíse Matos 

Júlia de Albuquerque Violato, 37, virou tema da cobertura midiática por ser vítima fatal de colisão entre um ônibus e um trem. Após o acontecimento, seu rosto estampou notícias de variados veículos com detalhes de sua morte, o que levanta o debate a respeito da necessidade e relevância dessa exposição.

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Império midiático do futebol

Falta de visibilidade ofertada para outras modalidades esportivas no Brasil

Por Iane Lima

Encerrou-se, dia 08 de outubro, o Campeonato Mundial de Ginástica Artística, que ocorreu em Antuérpia, na Bélgica. Além do espetáculo oferecido pela equipe brasileira, chama a atenção as poucas opções de transmissão quando comparada à disputas futebolísticas. Ainda mais por ser um esporte de extrema competitividade, com cerca de oito provas, nas quais são analisados grau de dificuldade dos movimentos, qualidade artística e rigor técnico. Postura perfeita, pernas retas, equilíbrio após rodopios compõem algumas das dificuldades enfrentadas pelos atletas.

Há mais de dez emissoras cuja programação inclui pelo menos um campeonato de futebol, nacional ou estrangeiro. Entre eles ESPN, SporTV, Premiere, TNT Sports, FoxSports para citar apenas canais televisivos por assinatura. As finais de ginástica, por outro lado, foram cobertas pelo SporTV, CazéTV e Canal Olímpico do Brasil. Quanto as classificatórias, tiveram transmissão europeia exclusiva através da All Gymnastics TV.

Reprodução do Google

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Regulamentação do audiovisual no Brasil

Políticas de incentivo à cultura no cinema e no streaming valorizam produção nacional 

Por Guilherme Cavalcanti, Júlia Giusti e Júlia Lopes

A distribuição audiovisual no mercado mostra a expressiva desvalorização da produção nacional. Segundo o Observatório do Cinema e do Audiovisual (OCA), em 2022, menos de 5% do público dos cinemas destinou-se a obras brasileiras, enquanto neste ano, o número caiu para 1,4%. A falta de regulamentação sobre o audiovisual do país revela um descaso com a cultura nacional que se segue há anos e viola o direito à cultura, previsto no artigo 215 da Constituição Federal

É nesse cenário que surgem as cotas de tela, determinando a obrigatoriedade da exibição de títulos brasileiros na televisão e no cinema. Neste caso, a reserva para as obras não foi renovada desde o vencimento, em 2021. A despreocupação com tal política ao longo dos últimos anos evidencia que representantes no poder constantemente fazem vista grossa para a necessidade dessas cotas.

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 AS REDES E AS NOVAS FÓRMULAS MÁGICAS PARA EMAGRECER

Médicos mantém ciclo de busca pelo emagrecimento com a indicação de medicamentos para a perda de peso nas mídias sociais 

Por Júlia Cerejo

“As neuroses modernas da vida num corpo feminino se espalham de mulher para mulher em ritmo epidêmico”. É com esta frase que a jornalista norte-americana Naomi Wolf conclui o primeiro capítulo do livro O Mito da Beleza, lançado em 1992 no Brasil, pela editora Rosa dos Tempos. Décadas após a publicação, a sociedade ainda convive com uma busca incessante pelo perfeito refletido no corpo feminino. Aliado a isso, as redes sociais infiltraram-se no convívio das pessoas e as bombardeiam constantemente com imagens esbeltas, apontadas como modelos a serem seguidos, junto a divulgação de possíveis soluções, como o medicamento Ozempic, conhecido por ajudar no emagrecimento. 

Segundo pesquisa realizada pela Comscore, empresa estadunidense de análise da internet, o Brasil ocupa a terceira posição no ranking mundial de consumo de redes sociais. A mais utilizada entre os brasileiros é o Instagram, com o uso médio de 14 horas durante o mês na rede. De acordo com o artigo “A influência do Instagram no cotidiano: Possíveis Impactos do Aplicativo em seus usuários”, a rede é “formada basicamente por imagem” e conclui: “Enquanto inserido em uma sociedade consumista, os indivíduos criam e reforçam padrões. O sujeito vê no outro um aspecto da realidade que ele busca e deseja, mesmo quando aquela realidade não corresponde ao real, e/ou a sua realidade, ele venera essa fantasia padronizada. O padrão de beleza está em constante mudança, e as mudanças desse elemento são fundamentais para a construção da identidade pessoal. É a partir desse ideal imagético que o Instagram pode influenciar seus usuários.”

Como apontam os autores, dentro do Instagram cria-se uma obsessão pela imagem. No entanto, além de cultuar essa figura perfeita, a rede oferece, a partir da produção de conteúdo — em foco aqui a de alguns profissionais da área da saúde —,  os segredos para alcançar o corpo considerado ideal por meio do uso de medicações. 

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O QUE É TERRORISMO?

Por que a mídia escolheu o termo para se referir aos vândalos pró-golpe

Por Ana Luiza Brandão

Como dizia o cantor e compositor Tom Jobim, “o Brasil não é para principiantes”. No domingo, dia 8 de janeiro, o país assistiu — mais uma vez — à depredação de bens públicos que começou como simples e inofensivas manifestações. Bolsonaristas radicais invadiram as sedes dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) em Brasília e instauraram o caos, destruindo desde os espaços ocupados pelas autoridades e seus bens materiais (como as togas dos ministros do Supremo Tribunal Federal) até as obras de arte e símbolos nacionais.

Mas por que desta vez, diferente de todas as outras, a mídia escolheu chamar esses vândalos de terroristas?

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