Sedução mórbida: a ânsia social pelo consumo de imagens contrárias aos valores humanos 

Por Maria Eduarda Cidrão

     No dia 13 de abril de 2023, fotos da cantora Marília Mendonça vazaram do inquérito policial que investigou sua morte, que ocorreu em novembro de 2021, após um acidente de avião em Minas Gerais. O fato, divulgado pelos cliques nas redes sociais e reforçado pela imprensa nacional, tomou uma proporção incontrolável. Contudo, não apenas o vazamento como notícia se estendeu, mas também, as próprias fotos da artista, no momento mais trágico — sentido literal da palavra — de sua trajetória. 

Tuíte da cantora Marília Mendonça em 13 de agosto de 2019, expressando sua indignação pela falta de ética já vivenciada por ela e citando, inclusive, o “medo de morrer”.
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O QUE É TERRORISMO?

Por que a mídia escolheu o termo para se referir aos vândalos pró-golpe

Por Ana Luiza Brandão

Como dizia o cantor e compositor Tom Jobim, “o Brasil não é para principiantes”. No domingo, dia 8 de janeiro, o país assistiu — mais uma vez — à depredação de bens públicos que começou como simples e inofensivas manifestações. Bolsonaristas radicais invadiram as sedes dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) em Brasília e instauraram o caos, destruindo desde os espaços ocupados pelas autoridades e seus bens materiais (como as togas dos ministros do Supremo Tribunal Federal) até as obras de arte e símbolos nacionais.

Mas por que desta vez, diferente de todas as outras, a mídia escolheu chamar esses vândalos de terroristas?

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SOTAQUES E SEUS ESTEREÓTIPOS NAS NOVELAS

Como as novelas reforçam estereótipos ao tentarem reproduzir sotaques regionais 

Por Júlia Cerejo

A nova novela da escritora e roteirista Glória Perez, Travessia — que começou na Rede Globo em outubro — acendeu, nas redes sociais, debates a respeito do uso dos sotaques nas atuações das tramas. O estopim do estranhamento pelo público foi a atuação da influencer Jade Picon, de 21 anos, que interpreta uma jovem carioca. Nascida em São Paulo, Jade vem sofrendo críticas pela maneira como reproduz a pronúncia do Rio de Janeiro. 

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“Pra que abortar? É só entregar para adoção”. Será?

O caso da criança que teve o pedido de interrupção da gravidez negado após sofrer violência sexual e a exposição da entrega voluntária para adoção, depois que atriz Klara Castanho foi vítima de estupro, mostram que discursos que condenam o aborto e colocam a doação como uma solução não ocorrem na prática. Falas do tipo não são fruto de preocupação com a vida, mas, sim, de controle sobre corpos femininos

Por Geovana Melo

Na manhã de sábado (25/6), um assunto rondou as redes sociais logo cedo. A apresentadora da Jovem Pan e pré-candidata a deputada federal Antonia Fontenelle contou, em live durante a semana, que uma atriz, de 21 anos, teria sido vítima de um estupro que resultou em uma gravidez indesejada. No entanto, como a religião da jovem condenava o aborto, a mulher optou por ter o bebê e entregar para adoção. Segundo Antônia, todo o processo foi feito em sigilo, mas o colunista Léo Dias descobriu o caso e entrou em contato com a atriz. Ainda de acordo com o relato da pré-candidata, a jovem confirmou a situação, chorou e disse que se mataria caso a notícia vazasse — fato que a youtuber desconsiderou totalmente ao expor a história. Logo começou-se a especular que se tratava da atriz Klara Castanho. O nome da jovem e dos colunistas viraram um dos assuntos mais comentados das redes sociais e entrou no trending topics do Twitter. 

Horas depois, já de noite, Klara Castanho publicou uma carta aberta, em que considerou como “o relato mais difícil” da vida dela. Contou que foi vítima de um estupro, que descobriu a gravidez em um estágio avançado, que não tinha condições emocionais de cuidar da criança e que todo o trâmite da adoção foi feito de modo legal, com amparo do Ministério Público — processo que pela lei garante sigilo a ela e a criança. 

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Stranger Things: a problemática do queerbaiting

Após o lançamento da 4ª temporada, o público volta a acusar a série Stranger Things de queerbaiting, quando uma obra indica que um personagem é LGBT, mas não afirma com clareza. Por que produções insistem em perpetuar o marketing maléfico do cinema?

Por Deb Alecrim

No dia 27 de maio, a 4ª temporada da série estadunidense Stranger Things estreou no catálogo da Netflix. O novo capítulo iniciou o arco final da história e prometeu explicar fenômenos não resolvidos ao longo dos anos anteriores. No entanto, o interesse de parte do público está em uma questão que os produtores da série não parecem ter interesse em responder: A sexualidade de Will Byers (Noah Schnapp).

Enquanto o problema principal da história está relacionado a monstros de uma realidade alternativa, o relacionamento que o grupo de protagonistas desenvolve é um grande fator-resolução. Na 1ª temporada, é a amizade entre Eleven (Millie Bobby Brown) e Mike Wheeler (Finn Wolfhard) que motiva El a derrotar o Demogorgon, o primeiro antagonista introduzido. 

Sendo assim, o enredo se dedica a explorar a vida social e romântica de todos os personagens, exceto Will. Tudo que temos são duas cenas que mostram alunos do colégio o chamando de gay. Na primeira cena, logo no 4º episódio do capítulo um, o “valentão” da escola provoca ao falar que Byers está “no reino das fadas, todo feliz e gay.”

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A objetificação feminina no cinema

Mesmo com uma gradativa mudança de mentalidade, produções hollywoodianas ainda insistem em objetificar personagens femininas

Por Fernanda Fonseca e Maria Eduarda Carvalho

Ancorado em ideais de feminilidade e estereótipos de gênero, o cinema hollywoodiano tem sido, historicamente, um dos principais meios de disseminação de ideologias sobre a mulher. Em razão disso, diversas autoras feministas analisaram essa relação entre representações opressivas e gênero no cinema, sendo marcante a crítica cinematográfica Laura Mulvey. Em seu artigo intitulado “Prazer Visual e Cinema Narrativo”, publicado em 1975 pela revista Screen, a autora estabelece a Teoria do Olhar Masculino (“male gaze”), afirmando que as mulheres são retratadas na mídia a partir de uma perspectiva masculina que as objetifica. O conceito de “male gaze” se estende para a análise de que, no cinema, em vez de existirem por elas mesmas, personagens femininas são comumente utilizadas como acessórios nas histórias escritas e protagonizadas por homens, sendo resumidas apenas à aparência física e à sensualidade.

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Caso Johnny Depp e Amber Heard: a insignificância dos fatos

Como a manipulação de narrativas na mídia e nas redes sociais foi estratégica para inverter o papel da vítima e limpar a imagem de Depp

Por Gabriela Boechat

A louca, manipuladora e mentirosa contra o abusado, altruísta e inspirador. Essa foi a polarização que tomou conta da mídia desde 11 de abril, quando teve início o julgamento dos atores Johnny Depp e Amber Heard,  no estado norte-americano da Virgínia.  

Em 2016, o casal se divorciou após pouco mais de um ano de casamento e foi concedido a Heard uma medida protetiva de afastamento contra o ex-marido por violência doméstica. Dois anos depois, a atriz publicou um texto no jornal The Washington postque abordava a violência sofrida e se colocava como figura representante das sobreviventes de abuso doméstico. O artigo não citava o nome de Depp. Ainda assim, com a alegação de que foi altamente prejudicado pela publicação, o ator processou a ex-mulher por difamação e pediu uma indenização de 50 milhões dólares.

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O “heroin chic” pode voltar?

Estética que pretendia ser uma alternativa à “perfeição” imposta nos anos 80 impacta diretamente na busca incessante pela magreza ainda hoje

Por Heloise Gonçalves e Débora Sobreira

Em setembro de 2019, Rihanna deu início ao especial anual de desfiles da sua marca de lingerie, Savage X Fenty, na New York Fashion Week. O impacto da celebração dos corpos plurais na passarela levou muitos veículos de mídia, inclusive da moda, a chamarem o desfile de “revolucionário”. As escolhas da estilista foram ovacionadas também nas redes sociais por pessoas que se viram — muitas delas, pela primeira vez — representadas nesse meio que lutou durante décadas pela exclusão de corpos fora do padrão.

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A manutenção da velha política na busca por cliques

Como a imprensa contribui para que gerações das mesmas famílias permaneçam no poder

Por Malu Souza

No início deste mês, a deputada federal Joice Hasselmann oficializou sua saída do Partido Social Liberal (PSL) e filiou-se ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), marcando mais uma troca de sigla bastante comum em ano pré-eleitoral. Em post na página do último partido no Instagram, o adolescente Tomás Covas, 16 anos, filho do ex-prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas, comentou que a filiação de Joice era uma “vergonha”.  

A partir disso, uma enxurrada de manchetes semelhantes a “‘Vergonha’, diz Tomás Covas sobre Joice no PSDB; deputada rebate” foram publicadas em diversos veículos de comunicação. Além do Metrópoles, veículos como Folha, G1, Extra, UOL, Jovem Pan, Poder360, O Antagonista, entre tantos outros, surfaram na onda da repercussão do comentário de Tomás. A opinião do adolescente gerou uma saia justa para ele que, além de ser criticado por diversas personalidades do campo político, no dia seguinte teve que almoçar com a deputada federal. O que faz com que Tomás Covas, ainda tão jovem, se sinta tão à vontade nesse meio? Uma das variáveis que respondem a essa pergunta é a mídia.

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De graça, até injeção na testa

Como a cultura brasileira, as campanhas de imunização e a mídia influenciam na alta adesão à vacina

Por Alice Bela e Heloíse Gonçalves

Em 21 de setembro de 2021, o Brasil alcançou a marca de 90% da população adulta vacinada com pelo menos a 1º dose, o que corresponde a 68% da população total, ultrapassando os Estados Unidos, que estagnou e vem adotando a estratégia de dar recompensas (inclusive financeiras) para incentivar a população a se imunizar. Contrariando a influência do Presidente da República, o Brasil apresenta uma das menores taxas de rejeição à imunização, segundo estudo publicado na revista Nature. Desde o lançamento das vacinas, a procura e a adesão têm sido massivas, e o maior obstáculo é justamente a incompetência governamental, que fez campanhas contra a imunização, atrasou doses e ignorou medidas básicas de proteção

Diante desse cenário, fica o questionamento: por que, apesar de tudo, o movimento antivacina não “pegou” no Brasil? A resposta pode estar associada ao histórico positivo do país no incentivo à imunização. 

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