HERÓI ATEMPORAL DO AUTOMOBILISMO

Nome de grande repercussão nacional, Ayrton Senna impulsionou a cobertura jornalística de Fórmula 1 e continua a ser lembrado

Por Laíse Matos

Campeão mundial em 1988, 1990 e 1991 pela McLaren, Ayrton Senna da Silva fez história na Fórmula 1 com recordes até hoje mantidos. Décadas depois do acidente fatal, o piloto brasileiro ainda é visto com carinho e admiração. Além do legado, a presença de Senna no paddock — ambiente que rodeia a pista, onde ocorrem interações com o público e imprensa — representou evolução significativa tanto na cobertura jornalística quanto no número de fãs do esporte pelo Brasil.

Em 1° de maio de 1994, às 13h40, horário de Brasília, o plantão da Globo anunciou a  morte de Ayrton Senna, que repercutiu nos veículos de comunicação de forma nacional e internacional. Três dias depois, cerca de 2 mil jornalistas foram credenciados para o velório, no qual teve honrarias reservadas a chefes de Estado, como carreata e salva de tiros. A edição do Fantástico — programa da TV Globo que vai ao ar nas noites de domingo —, especialmente reformulada para tratar do acidente, apresentou uma das maiores audiências da história.

 No dia seguinte, a manchete de jornais por todo o Brasil era uma só:

Reprodução/ Acervo de O Estado de S. Paulo, O Globo e Folha de S.Paulo

Desde então, a data é marcada por inúmeras notícias que exaltam o piloto e relembram o acidente fatal no Grande Prêmio (GP) de San Marino, em Ímola, na Itália. Em 2024, 30 anos depois, a unanimidade da tristeza e da saudade permanecem. A CNN Brasil publicou duas matérias que falam do legado e dos detalhes do acidente, tema também do Globo Esporte (GE) e do Terra. Em reportagem de O Globo, o tema foi as mudanças do protocolo de segurança na Fórmula 1 após a morte de Senna.

Outro fato que repercutiu foi a homenagem feita por Alain Prost, rival do piloto brasileiro nas pistas. A ESPN, o G1 e o Metrópoles noticiaram a postagem. Na legenda da foto publicada no Instagram, Prost comentou: “Teria sido bom rirmos juntos hoje novamente!”. A namorada do piloto na época, Adriane Galisteu, também virou notícia com declaração nas redes sociais.  “O dia que o Brasil inteiro sente a mesma dor… O dia que marcou minha vida tão profundamente que nunca, jamais será esquecido… Para sempre, Ayrton!”, escreveu.

O perfil oficial da Fórmula 1 no Instagram (@F1) prestou homenagens ao brasileiro:

Reprodução/Instagram F1

Entretanto, a fama de Senna não surgiu com sua morte. Desde a primeira vitória na Fórmula 1, em 1985, no GP de Estoril, Portugal, a trajetória como piloto foi noticiada e aumentou a visibilidade do automobilismo no jornalismo brasileiro. O primeiro lugar na corrida de Interlagos, São Paulo, em 1991, ganhou, além da manchete, um caderno especial no Jornal da Tarde. “Ele já era bicampeão mundial (1988 e 1990), mas nunca havia vencido em casa”, escreveu o Estadão, ao relembrar a conquista em 2023.

Reprodução/ Estadão

Apesar de outros pilotos nacionais com número próximo de campeonatos correrem durante o mesmo período, como Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi, a fama de Ayrton Senna é incomparável. Em pesquisa realizada em 1988 pela agência MPM, foi eleito o maior ídolo brasileiro. Para o jornalista automobilístico Fábio Seixas, em entrevista ao O Tempo,  “a idolatria pelo Senna ultrapassa as fronteiras do Brasil”.

 “Algo que sempre notei quando viajava para os Grandes Prêmios ao redor do mundo era como havia gente que idolatrava e continua idolatrando Senna. Então,  em termos de idolatria, talvez ele seja o maior nome da história da Fórmula 1, em número de pessoas que o seguem, que o admiram. Além disso, devemos lembrar que Lewis Hamilton, o maior vencedor da história da Fórmula 1, tem como grande ídolo o Ayrton Senna. Acho que isso diz muita coisa”, continuou o repórter.

Em webdocumentário da TV Globo, o jornalista João Guilherme Paes Leme afirmou que “parte da Fórmula 1 morreu com ele”. Isso porque, durante anos, o esporte apresentou quedas na audiência. Em 1998, a Folha OnlineUOL, atualmente — veiculou notícia que dizia: “A presença de três pilotos brasileiros na pista durante o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 rende metade da audiência que Ayrton Senna proporcionava em sua época”.

Segundo o automobilista Cacá Bueno em entrevista ao O Globo, o que imortalizou Senna foram o patriotismo e a acessibilidade: “Ele soube dividir suas conquistas com todo povo brasileiro, fazia questão de levantar a bandeira nas vitórias, foi o primeiro piloto a fazer disso um gesto constante”. A morte repentina e televisionada também auxiliou no processo. De acordo com Ivan Martino, professor de Marketing esportivo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), ouvido pelo Estadão, “isso acabou cristalizando essa imagem vencedora, como grande campeão e exemplo, aquele sinônimo do Brasil que dá certo, que levava o Brasil com orgulho para fora”.

Reprodução/ Jornal da Tarde e Jornal do Brasil

A bandeira do Brasil passou a acompanhar o piloto em 1986, no GP de Detroit, em Michigan, Estados Unidos. Na véspera da corrida, a seleção brasileira foi eliminada na Copa do Mundo do México. Esse sinal de nacionalismo, então, estaria ligado à ideia de levantar os ânimos após a derrota no futebol e de causar orgulho nos fãs.  

O simbolismo da comemoração é tamanha que, no GP de Interlagos em 2021, quando o ato foi repetido por Lewis Hamilton, heptacampeão mundial de Fórmula 1,  a homenagem lhe rendeu cidadania honorária brasileira, à pedido do deputado André Figueiredo (PDT-CE) e apoio dos demais parlamentares. 

Outro fator contribuinte para a atemporalidade do brasileiro foram as marcas Senna e Senninha, criadas em 1991, com a justificativa de que, nas palavras do piloto, “como tudo na vida, as pessoas se vão, mas as ideias ficam”. Parte do valor arrecadado vai para o Instituto Ayrton Senna, fundado em novembro de 1994, que financia pesquisas, profissionais e projetos na área da educação.

Senninha, personagem da marca infantil, e logo do Instituto Ayrton Senna

Considerado o maior ídolo do automobilismo brasileiro até hoje, Ayrton Senna deixou, além de saudade,  uma marca na sociedade e no esporte. Desse modo, seja por causa da figura acessível e humilde que era fora das pistas ou pelo acidente com transmissão em tempo real, o piloto tem trajetória revivida anualmente pelo jornalismo e pode ser apontado como um dos personagens que impulsionaram a cobertura de automobilismo no país.

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